quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Terceira Internação =O

Bom depois desses dias estar em casa era um alívio, afinal ninguém merece hospital, pra mim estar em casa era como estar em uma colônia de férias, tudo me divertia, do meu guarda-roupa bagunçado, á comida de casa, tudo era divertido, e interessante na casa que morei durante anos e nunca dei um pingo de valor, o cheirinho de casa limpa, ao invés de álcool, a comida gostosa e com sal, a minha cama sem grades, meus braços livres, poder me virar para onde quiser sem me preocupar, dormir uma noite inteira sem ninguém pra te acordar, e de manhã ao invés de visitas de médicos ver minha família sentada na mesa tomando um belo café, melhor que isso impossível.
Não me lembro qual medicação estava tomando, mas se não me engano era lamotrigina que o Doutor Julho ( residente amigo da Cilmária) havia me passado, tudo tranqüilo até então, logo que cheguei assisti o filme " Um amor para recordar" e " Para sempre ao seu lado", depois de tudo que havia passado estava bem  e chorava a cada filme que assistia, as crises continuavam todos os dias para me atrapalhar, mas tê las em casa não me causava nada mais que uma queda.
Estava em casa com meu namorado, logo após o almoço, e derrepente soltou uma bolha na minha mão, pra mim tudo muito tranqüilo, estourei e ai começou a sair a pele todinha da mão até o braço, e a pingar sangue, ai  senti arder, meu namorado viu, e se apavorou, quando minha mãe olhou, se trocou e voltamos ao hospital, fui no carro chorando e eu nunca chorei de medo de hospital e nem estava doendo, minha mãe pedia pra eu me acalmar depois de tudo era só um curativo, mas eu tremia e chorava, cheguei lá sentei e minha mãe foi fazer a ficha, antes mesmo da triagem, apaguei, e ai foram 4 crises seguidas, a única cena que lembro é quando levanto na emergência e tiro o garrote do pé, e escuto o médico falando "Ela vai cair", e apaguei de novo, não me lembro de mais nada por isso vou contar agora o que me contaram...
No inicio foram muitos diazepam que não controlaram as crises, quando deram o papel para minha mãe fazer a internação e viu que era pra UTI, ela entrou em desespero e voltou para falar para o médico que ele havia errado, pq aquele pedido era para a UTI, e ele informou que era para lá que eu ia, uma confusão, meus pais não poderiam ficar comigo, nem ninguém, uma amiga minha Fernanda ( vizinha), passou a noite entrando na UTI, trabalhava lá e ai ficava mais fácil, entrava e saia, minha mãe veio embora e disse que eu pedi pra ela ficar calma, que daria tudo certo, a turma da UTI conta que bati, e briguei muito, tentaram me sedar com diazepam, domunid e nada dava certo, e aí entraram com medicamentos fostes Fentanil, Propofol em bomba de infusão, a Fernanda descobriu pelo sistema que iriam me entubar e correu lá, eu ainda estava falando, e nervosa, e disse que eu falei " Fê ta chegando o dia dos pais, compra um presente pro meu pai, não conta nada pra minha mãe, fala que ta tudo bem, e eu tenho uns livros lá em casa que vai servir para você" ( não lembro de nada, de nenhuma palavra dita, nem nada), é estranho saber que vc falou e fez tanta coisa e não sabe, me senti uma bêbada haha...
A turma da UTI dizia que nada me sedava e ai ficavam todos em silencio na UTI, e ai a enfermeira relava na testa minha perna subia, ela disse que falou que ia passar uma sonda e eu abri as pernas ( depois tiramos uma Fotinha brincando) hahaha... Até que o coma e a intubação enfim deu certo, a Fernanda saiu e ligou pra minha mãe que estava tudo bem, porém chorando, mas os auxiliares já haviam ligado informando que eu estava intubada, a turma da internação revezava para me ver e dar noticias aos meus pais, foram 7 dias, dias bons e outros ruins, fiquei inchada, irreconhecível e mesmo em coma ainda tinha espasmos e algumas crises, quando fui voltando do coma me entubaram, e me lembro apenas me levantando para vomitar e deitei de novo, quando voltei estava melhor, mas estava muito assustada, já era noite, e todos dormindo, vi uma enfermeira que não existia e briguei com ela, neguei a medicação da noite, e quando fechava os olhos parecia que os médicos em silêncio colocavam placas no meu rosto, e faziam caretas, passei a noite com o olho arregalado, mas super cansada... A pior noite da minha vida isso é FATO.
No outro dia conheci a enfermeira Priscila, adorei e enfim me sentia protegida, contei tudo a ela, que se apavorou imaginando que era tudo verdade, que os médicos tinham feito mesmo pouco caso de mim, que a enfermeira tinha mesmo brigado, e me deixado de lado, foi um auê, a Pri não sabia se contava ou não aos meus pais, ficou confusa e eu ainda mais, os médicos continuaram lá, e a outra enfermeira nunca mais vi, e até hoje ela participa dos meus piores pesadelos, nessa manhã a oração dos auxiliares foram em volta da minha cama, tão lindo, umas diziam que tinham pensado em mim a noite toda, outras falavam que a minha entubação foi assustadora e por isso estava ali, não enxergava nada no relógio e nem tinha noção da hora nem do dia, o Fábio meu amigo foi me visitar e ai  perguntei o que ele estava fazendo ali àquela hora da noite, e há quantos dias eu estava ali? haha ele disse " Grazi faz 48 dias e estava em casa sem fazer nada e resolvi passar aqui" ( Muy amigo, faziam 8 dias que eu estava ali e era de manhã) hahaha... Derrepente começo a escutar um barulho, e fico apavorada, e começo a gritar o Doutor. Márcio, plantoniasta da UTI, falando que meu pai estava matando a enfermeira errada, e a Pri no desespero jurando que meu pai era mesmo super bravo, estava na poltrona e ai ele abriu a porta eu vi que não tinha nada, ( ai todos perceberam que estava alucinando) hahaha. É horrível ficar assim viajando o tempo todo.
Nesse mesmo dia no plantão da tarde imaginava que era tarde da noite,  pedi para ir ao banheiro e disse que ia andando, fui toda torta andando de um lado para o outro, ai falei para a auxiliar "meu xixi é tímido", ela me deixou sozinha mas ficou na porta... E eu naquele sufoco na cama passava o tempo todo com a mascara de Oxigênio, e não sabia quem sem ela não conseguia respirar direito, comecei a tossir, tentava tirar a fralda e não sabia que estavam com as placas de hidrocolóide ( serve para prevenção de feridas, já que eram muitos dias deitada) é uma cola e tanto, e ai fui fazendo força o avental caiu, e se eu abaixasse a cabeça pra saber o que era aquilo que eu puxava iria cair, estava sem equilíbrio, abri a porta sem as placas ( caríssimas), com o chão todo mijado, e tossindo muito, quando a auxiliar viu começou a gritar a enfermeira que eu havia tirado tudo ( eu só queria minha mãe, pra cuidar de mim, para explicar tudo, e para me dar um belo banho), mas a auxiliar era carinhosa e falou " Grazi vamos tomar um banho no chuveiro", eu disse que não era necessário, pra mim era de madrugada, e coitada né... Ela disse que não havia problemas, e depois de dias estava sentindo a água do chuveiro, tomei um banho bem rápido e bem bem nojento ( com um pedacinho de sabonete que se encontrava lá), dá pra perceber como eu estava mal né?! haha
Bom deitei, me arrumaram na cama, e ai as 20:00 chegaram as visitas, mãe e pai, irmã e namorado ... Primeiro entrou minha irmã e meu pai e ai ficaram conversando, minha voz não saia por conta da intubação machuca msm as cordas vocais, mas me entendiam, e ai comentei " pai agora para o café da manhã veio arroz e peixe, não como peixe, imagina isso no café da manhã" ele ficou sem entender, ai a moça do refeitório passou e disse "Boa noite", e deixou o café ai eu disse " tá vendo pai, ou eu ou a moça está ficando louca, ela disse boa noite e agora que é hora do almoço deixou o café da noite", ai ele explicou "filha são 8 horas da noite" kkk...toda perdida. Minha irmã disse que eu perguntava toda hora que dia tinha chegado lá.
A auxiliar Du Carmo do plantão da noite, abriu a cortina para eu falar com a mulher do lado, que tinha tido um inicio de infarto tão novinha, e ai conversávamos, ela disse que estava feliz por me ver melhor, e ai começamos a tentar descobrir a quanto tempo ela e eu estava lá, ela disse que havia chegado domingo, e eu disse que achava que tinha chegado nesse dia também ( tinha chegado na outra terça rsrs), ai de longe estamos vendo a turma preparando a injeção da barriga ( clexane, para circulação), e ai ficamos "ai amiga tomara que não seja para mim", " ai nem pra mim"... e ai foi nela, coitada... Essa dói, não chorava mas merecia umas lágrimas haha
No outro dia tudo muito tranqüilo fiquei esperando minha alta.. É a maior felicidade, parece que você vai sair de uma prisão, e voltar para o quarto do hospital era uma grande emoção e não só para mim... Me  deram um banho bem cheiroso com meu xampu palmolive  Kids, eles adoravam o cheiro e ai pediram um pouco para minha mãe (rs), minha irmã comprou um pente pra mim bem grande, para não puxar o cabelo na hora de pentear, eu olhei e falei " desconheço esse pente"...ai explicaram que meus pais haviam comprado, e contaram que a botinha que estava no final da cama era pra não dar ferida no pé, mas que nem em coma aquilo parava no pé... (rs). Quem me dava banho era uma Freirinha morena muito linda e legal, conversava bastante comigo. Muitos da facul iam lá à porta na hora da visita, mas a enfermeira não deixava entrar, alguns até conseguiam, e eu não reconhecia quase ninguém, só se fosse da família.. A alta demorou o dia todo para chegar, mas era de manhã ainda quando falaram que estava tudo pronto, abracei todo mundo, e me disseram que iriam me ver lá no quarto, agradeci muito não foram dias fáceis... E todos estavam radiantes e felizes por mim, e a minha amiguinha do lado estava indo para o Centro-Cirurgico... Quando se abre a porta meus pais lá, e uma turminha da internação, que emoção todos sorrindo e ai encontramos uma moça que cantava para as crianças, e quando me viu saiu correndo atrás e entrou no quarto comigo, impressionada com aquele meu sorriso (amareloo) rsrs.. O efeito da sedação ficou durante dias e eu ria muito, me sentia drogadona haha.. A moça tocou e cantou para mim, fez músicas falando do meu nome e do meu sorriso... e foi embora....
Bastidores
Nos bastidores disso tudo as coisas foram muito mais tensas que pra mim...
- No inicio para meu pai aceitar foi complicado, á 3 meses atrás ele entrou em uma neura e não conseguia dormir falando que fechava os olhos e tinha uma sensação estranha que alguém ia intubar ele, ficou um tempo lutando com isso... e para ele me ver assim agora realmente era dificil, até porque eu estava em casa rindo, brincando e derrepente toda essa confusão, minha irmã diz que foram dias de terror, a família foi toda na porta do PS, e eu sai rindo e dando tchau, e todos chorando, fui para a UTI e todos continuaram lá, subiram para o andar e chegavam tios, amigos, colegas, meus amigos brigando falavam " agora a gente quer dar atenção pra ela, mas agora é tarde", outros pediam desculpa para minha mãe pois haviam brigado comigo dias antes, meu padrinho em desespero, minhas primas todas chorando, e minha irmã desesperada gritando, e minha irmã falava " ela vai morrer, não deixa", um desespero...mas foi passando os dias e as coisas se acertando, a família aceitando um pouco mais...
- Em casa ninguém dormia nem comia, toda hora tinha alguém até a Kássia do hospital veio aqui pra saber noticias, minha irmã disse rezavam e deitava e ai sempre um dizia "Mas se a Grazi tivesse aqui..." ai  caiam em prantos. Nas primeiras visitas meu pai não deixava ninguém falar comigo, nem relar em mim, mas a enfermeira deu bronca e falou que todos deveriam conversar para eu lembrar deles quando voltar. Minha mãe pegou na minha mão e eu fiz cara feia, minha irmã disse que saiu correndo gritando meu pai, falando que minha mãe tinha me acordado (rs), e ficavam pra ela eu falei pra vc não relar nela..kkk
- Na igreja todas as missas o padre falava meu nome, e os grupos de oração eram em minha intenção, ( participo de lá desde os 3 anos) hehe
- Meu namorado foi um grande exemplo, antes de ir para UTI ele passou a noite lá,minha mãe explicou que se ele quisesse me deixar que podia ir, agora as coisas haviam piorado, e ele não tinha responsabilidade alguma comigo, disse para ele não entrar eu estava intubada ele não ia gostar de ver...mas ele insistiu e entrou quando saiu falou " está linda como sempre"..toda visita meus pais falam que ele estava, e que quando ele falava comigo meu coração acelerava na máquina, um dia ele entrou falou comigo e escorreram lágrimas, saiu todo feliz falando que eu entendia ele. Um verdadeiro anjo!
Sei que foram dias difíceis, por isso venho agradecer a Deus e á todos vocês que estavam ao meu lado nesse momento.

Um comentário: